domingo, 15 de agosto de 2010

Reflita.

...era o maior milagre de uma vida: dar a luz ! E desse milagre nasceu um menino. Sapeca e um pouco levado, mas que nunca perdia o espírito brincalhão.
Este menino morava somente com sua mãe, em um lugar com muitas pessoas. Eram várias mães com seus filhos, todos naquele mesmo lugar. Como era apenas uma criança, nunca se esforçou para entender tudo o que acontecia à sua volta. Mas algumas vezes se perguntava: “Porque todos têm esse olhar triste?”, “Porque todo aquele choro, todas aquelas lágrimas, tais que todos à minha volta, derramam.” Ele não sabia. Haviam tantas coisas novas nesse mundo para que aprendesse. Ele só queria saber de brincar e brincar, assim como todas as outras crianças que ali viviam. Com certa idade, resolveu passear e conhecer um pouco mais desse “novo mundo”, observar tal ambiente, o qual era seu lar. Percebeu que todos eram presos por cercas onde não podiam sair e os adultos tinham regras a cumprir por “superiores” e, então, deu-se conta de que algumas vezes apareciam esses tais “superiores” para dar-lhes comida. Mas tudo bem, eles viviam bem, eram felizes (ou, ao menos ele era..) e tinham comida, água e seus banhos, sempre que precisavam e, em abundância. Qual era a parte ruim de tudo isso, se tinham tudo que precisavam? Não deveriam estar tão tristes assim, num lugar tão bom de se viver. Eu, como tal menino, sou feliz assim! Sou feliz aqui!
Acordo-me, em meio à madrugada, abraçado em minha mãe, vejo-me sem entender a situação. Minha mãe chorava muito, soluçando de dor em seu peito, em seu coração ferido. E eu, sem saber o que acontecia, apenas a abraçava mais forte e a fazia sentir que eu estava do lado dela, que eu estava presente ali. Com uma sensação de impotência de minha parte, vejo-me sem mais nada a poder fazer, além de dá-la meu carinho, meu amor e mostrá-la que tudo ia passar e eu estaria ali para ajudá-la a fazer, o que fosse para toda essa dor parar. Me doía tanto vê-la assim, eu sentia a dor dela, que era transmitida pelo nosso laço famíliar, esse laço amoroso tão forte como o que nos ligava, quando eu ainda fazia parte de suas entranhas. Disse a ela: “Mamãe, eu já estou mais crescido, quero mostrar a você que posso lhe ajudar. Quero também ser teu amigo e ficar do teu lado nesses momentos difíceis. Conte-me o que acontecera contigo, conte-me suas aflições e dores...”, mas ela – com lágrimas nos olhos – virou-se a mim e me abraçou forte enquanto sussurrava ao meu ouvido: “Meu amor, um dia saberá tudo que rodeia este lugar, um dia saberá tudo que passo por aqui e tudo que todos passam. Como mãe, eu não queria nunca que você passasse pelo que terá de passar, mas ao mesmo tempo sou incapaz de te tirar desse lugar horrível. Eu te amo, só preciso que você lembre disso !” – ela falava isso ao pé do ouvido, enquanto me fazia carinho e me embalava pra voltar a dormir. Eu já estava passando do tempo de largar minha mãe, eu estava me tornando independente daquele outro ser, aquele ser o qual eu mais amava na vida. Voltei a dormir.
No outro dia, uma nova vida estava chegando ali em meio a nós, todos choravam, mas ao invés de expressões de alegria por aquele novo ser, pareciam lágrimas de dor. Pensei comigo mesmo se aquelas lágrimas também foram derramadas por todos, quando eu nasci. Será que ficam tristes quando nasce uma nova alma entre nós? Não entendi o que acabava de acontecer ali, mas sabia que no tempo certo eu entenderia.
Uma semana depois do nascimento do mais novo membro da nossa família, acordei-me em meio à manhã com os gritos de todos lá fora. Corri pra ver o que estava acontecendo e foi aí que eu vi, várias mães sendo levadas para uma porta onde eu nunca havia visto aberta. Dentre todas elas, MINHA MÃE! Ví que todos choravam e em meio àquela confusão cheguei perto da minha progenitora (enquanto batiam nela pra que entrasse na tal porta) e então perguntei, meio esbaforido e confuso: “Mãe, me explica o que que tá acontecendo.” Ela só gritava ainda mais em meio à suas lágrimas entrei junto, atrás dela. Todas elas tentavam subir uma em cima da outra, tentando se salvar de algo horrível que ali aconteceria. Minha mãe olhou pra trás e entrou em desespero ao me ver, com muito esforço chegou até mim e disse: “Filho, tu também passarás por isso. Não sei se hoje (pois não era pra estares aqui agora) ou não sei que dia, mas passará. Ninguém consegue se livrar disso. Só quero que tu pense que não vai doer por muito tempo, espero que tu tenhas sorte e que seja tudo em uma paulada só...” – em meio a tais fatos relatados eu desabei a chorar junto com ela. A morte dela me vinha a cabeça a todo o instante. Eu não podia viver sem ela. Mas eu ainda não sabia claramente o que estava acontecendo. Entramos em um corredor muito estreito, onde só cabia um atrás do outro, obrigatóriamente tivemos que ficar em fila. Havia uma cortina de correntes à frente da minha mãe e no final daquelas correntes, sangue se esvaiavam em meio a nossos pés. Comecei a chorar mais, eu estava com muito medo do que poderia acontecer. Comecei a tentar salvar-me, junto à minha mãe, tentei fazer com que ela subisse em mim e tentasse sair dali, mas vi que tudo era em vão. Não havia saída e a fila sempre andando, já que lá no final haviam pessoas que continuavam batendo, pra que andássemos logo. Não tinha jeito de voltar e nem mesmo como fugir. Conformado, segui em frente. Tentei passar à frente de minha mãe, pra não precisar ver o que com ela poderia acontecer, mas não foi possível. O corredor era tão estreito que mal conseguiamos caminhar ali. Minha mãe era a próxima a passar pelas correntes. Meu coração pulava dentro de mim, parecia que ia saltar dali. Nunca senti tanto medo e também nunca vi tanta angústia nos olhos dela. Ela continuou, não vi bem o que aconteceu, só sei que em meio àquele sangue todo, ela escorregou e um pino tentou acertá-la a cabeça, infelizmente não conseguiram dar o tiro certeiro. Acertaram-na no olho, e depois do lado da cabeça. Com o crânio e cérebro furado e um olho em meio à sangue e lágrimas ela caiu no chão. Chorei muito enquanto olhava minha mãe agonizando no chão, tremendo e jorrando sangue por tudo. O sangue se misturava ao das outras mães que por ali já haviam passado e ela tentava falar algo. Puxaram-na um pouco para trás e eu consegui ver sua expressão de dor e sofrimento. Aquilo era muito forte para mim, me machucava tanto e, então, ela conseguiu falar algo: “Meu filho, você só precisa lembrar que EU TE AMO!” Chorei muito enquanto dizia a ela o quanto a amava também. Nem percebi e eu já havia passado em meio às correntes. Foi quando senti uma pressão muito forte em cima da cabeça e, então caí. Olhei nos olhos daquela mulher que tanto me deu amor e então, com muita dor, meu corpo deu-se por vencido.


SUGESTÃO DO QUE COLOCAR NO FINAL:
E, SE EU CONTAR PRA VOCÊS QUE ESSA HISTÓRIA É REAL? E SE EU DISSER QUE HISTÓRIAS COMO ESSAS ACONTECEM TODOS OS DIAS... VOCÊ ACREDITARIA? MAS É A VERDADE ! TODOS OS DIAS ACONTECEM BARBÁRIES COMO ESTA E ISSO POR SUA CULPA, PELO SEU PALADAR E PELA SUA IGNORÂNCIA DE NÃO SABER O QUE ACONTECE NUM ABATEDOURO. PELA IGNORÂNCIA DE NÃO QUERER VER QUE A “COMIDA” DA SUA MESA É UM CADÁVER DE UM SER QUE SENTE DOR, MEDO, ANGÚSTIA E, PRINCIPALMENTE, DE UM SER QUE TAMBÉM AMA.
PENSE NISSO... ! OU CONTINUE COM OS OLHOS VENDADOS PARA O MUNDO O QUAL VOCÊ FAZ CADA DIA FICAR MAIS INJUSTO E TENEBROSO PARA MUITOS SERES...


Por: Daniéle Mello Baronio


09/08/2010

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